Minha amiga Monica Bemke, me provocou a desenvolver uma análise em função de seu questionamento num texto sobre governança em empresas familiares: Cleber: Mas me provoca uma pergunta direta: como a alta direção — conselho, C-level e família empresária — pode conduzir esse tema para que a governança deixe de ser formalidade e se torne um ativo estratégico real?
Imagino que nesse ponto, o conselheiro pode ter um papel-chave: como ele pode reduzir desgastes e facilitar os alinhamentos críticos ao longo do caminho?
Monica, transformar a governança corporativa de uma mera formalidade em um ativo estratégico real exige engajamento genuíno e alinhamento contínuo entre a alta direção, o conselho, o C-level e a família empresária. Esse processo, embora desafiador, é essencial para garantir que as práticas de governança não sejam vistas apenas como um conjunto de regras impostas, mas como um mecanismo dinâmico que impulsiona a empresa rumo à longevidade e ao sucesso sustentável.
Para isso, é fundamental que a alta direção assuma uma postura de liderança clara e estratégica na condução do tema. O primeiro passo é alinhar expectativas e objetivos desde o início, garantindo que todas as partes interessadas — família, conselheiros e executivos — compreendam o real propósito da governança. Deve haver consenso de que ela não está ali apenas para atender a aspectos formais, mas para agregar valor ao negócio por meio de maior transparência, alinhamento estratégico e eficiência na tomada de decisões.
Neste cenário, o papel do conselheiro se torna essencial. Mais do que um mediador isento, ele deve atuar como facilitador de diálogos difíceis, reduzindo desgastes e promovendo alinhamentos críticos. Para tanto, deve possuir um perfil que combine habilidades técnicas e interpessoais, sendo capaz de lidar com diferenças de opinião e dinâmicas familiares frequentemente presentes em empresas desse tipo.
O conselheiro pode contribuir de diversas maneiras para que a governança se torne um ativo estratégico:
Educar e sensibilizar as partes interessadas: É papel do conselheiro trazer a perspectiva externa, ilustrando como a governança pode ser usada de forma prática e estratégica. Compartilhar cases e exemplos reais de sucesso ajuda a criar consciência sobre os benefícios concretos da governança.
Articular os diferentes interesses: Em empresas familiares, é comum que membros da família tenham visões e prioridades divergentes. O conselheiro deve agir como um "tradutor" desses interesses, ajudando todos a encontrar um terreno comum que alinhe os objetivos individuais ao sucesso coletivo da empresa.
Promover discussões consistentes sobre o planejamento estratégico: Para que a governança não seja vista como mera burocracia, ela precisa estar conectada à estratégia de longo prazo. Isso significa alinhar as práticas de governança diretamente às metas e à visão da empresa, garantindo que contribua para a execução eficaz do planejamento estratégico.
Estabelecer uma dinâmica de confiança: A relação entre o conselho, o C-level e a família empresária deve ser baseado em confiança mútua. O conselheiro pode facilitar a construção dessa confiança ao adotar uma abordagem transparente, ao mesmo tempo em que leva em conta as sensibilidades emocionais da família.
Mitigar conflitos e antecipar problemas: Conflitos podem surgir de expectativas desalinhadas ou de papéis mal definidos. O conselheiro deve ser proativo na identificação de possíveis pontos de atrito e no desenvolvimento de soluções antes que eles se intensifiquem, promovendo uma comunicação clara e contínua.
Além da atuação do conselheiro, é imprescindível que a alta administração demonstre, por meio de suas ações, o compromisso com a governança. Esse compromisso deve ser visível na forma como as decisões são tomadas, nas prioridades estabelecidas e na adesão às práticas e princípios de governança por todos os níveis da organização. Líderes que dão o exemplo inspiram confiança e engajamento, reforçando a importância do tema.
Por fim, é importante ressaltar que transformar a governança em um ativo estratégico não é um processo pontual, mas contínuo. Ele requer revisões periódicas, monitoramento de resultados e ajustes à medida que a empresa e o mercado evoluem. Com a alta direção engajada e um conselheiro habilidoso no papel de guia e facilitador, a governança pode se tornar o catalisador para a profissionalização, o crescimento sustentável e a perpetuação do legado de uma empresa familiar.
Governança em Empresas Familiares: De Formalidade a Pilar Estratégico
Muitas empresas familiares enfrentam o desafio de implementar um modelo de governança que vá além das aparências, quicando entre a formalidade e a efetividade. Para alguns, a governança é apenas mais um procedimento burocrático; para outros, ela parece distante do impacto real sobre os resultados e a longevidade do negócio. No entanto, esse ceticismo muitas vezes nasce da ausência de uma condução estratégica e de um engajamento genuíno por parte da alta direção, especialmente o conselho, o C-level e a família empresária. A boa notícia é que essa realidade pode ser transformada: com liderança alinhada, atitude proativa e um conselheiro habilidoso, a governança pode se tornar um verdadeiro ativo estratégico, essencial para o sucesso sustentável de qualquer empresa familiar.
Por que a Governança é Essencial em Empresas Familiares?
Empresas familiares apresentam uma dinâmica única, onde questões emocionais, aspirações individuais e assuntos de negócios inevitavelmente se entrelaçam. Sem um modelo estruturado para alinhar objetivos e gerenciar conflitos, o potencial para decisões desalinhadas e disputas internas é elevado. É aqui que entra a governança — não como um conjunto de regras engessadas, mas como um sistema vivo que une tradição, visão estratégica e inovação.
Com práticas de governança bem implementadas, a empresa pode:
Portanto, o ceticismo em relação à governança muitas vezes reflete a falta de compreensão sobre esses impactos transformadores. E para alcançar essa transformação, a condução pela alta direção, apoiada por um conselheiro efetivo, é indispensável.
Como a Alta Direção Pode Transformar a Governança em um Ativo Estratégico?
Para que a governança deixe de ser uma formalidade e passe a ser um fator-chave de sucesso, a alta direção — conselho, líderes do C-level e família empresária — precisa desempenhar um papel claro e consistente nesse processo. Isso exige envolvimento ativo, tomada de decisões conscientes e um compromisso em disseminar a relevância da governança em todos os níveis da organização.
Demonstrar Liderança pelo Exemplo
A transformação começa no topo. Quando os líderes da empresa — sejam membros da família ou executivos externos — demonstram compromisso genuíno com as práticas de governança, eles inspiram os demais a adotar uma postura semelhante. Isso implica seguir processos definidos, respeitar papéis e responsabilidades e priorizar a transparência nas decisões.
Definir Propósitos Claros e Alinhados
A governança não deve ser implementada apenas "porque é o que se espera de uma empresa séria". Ela precisa estar conectada às prioridades estratégicas do negócio, como entrada em novos mercados, sucessão de liderança ou fortalecimento da resiliência em tempos de crise. Quanto mais claros forem os objetivos para cada stakeholder, maior será a adesão.
Garantir Diálogos Abertos e Constantes
A comunicação é essencial para reduzir mal-entendidos e garantir alinhamento entre os interesses da família, do conselho e dos executivos. Reuniões bem estruturadas, alinhadas com a estratégia, permitem que todos tenham espaço para debater, contribuir e compreender o propósito da governança.
O Papel do Conselheiro: Mediador e Facilitador de Alinhamentos Críticos
Um dos maiores trunfos para que a governança se torne um ativo efetivo em empresas familiares é a atuação de um conselheiro preparado. Mais do que um profissional técnico, o conselheiro deve ser um facilitador habilidoso, capaz de superar barreiras emocionais, vencer resistências e conduzir alinhamentos estratégicos.
Convencendo os Céticos: Resultados Falam Mais Alto
Mesmo os mais descrentes na governança corporativa não podem ignorar o impacto tangível que uma gestão estratégica e bem estruturada oferece. Empresas familiares que adotam boas práticas de governança frequentemente conseguem:
Mais do que uma formalidade, a governança é a base que sustenta a competitividade e a sustentabilidade de empresas familiares no longo prazo. Quando a alta direção e o conselheiro atuam como agentes transformadores desse processo, o ceticismo começa a ceder lugar à admiração pelos resultados alcançados.
Conectar o legado familiar aos desafios da modernidade, enquanto se constroem negócios sólidos e inovadores, é o real propósito da governança. Ela não é apenas um conjunto de regras, mas uma ferramenta poderosa para alinhar tradição, estratégia e inovação. Afinal, as empresas familiares não precisam optar entre a preservação de sua essência e o sucesso no mercado: com uma governança bem aplicada, elas conseguem ter ambos.
Conclusão
Para finalizar essa análise sobre a governança corporativa em empresas familiares, quando conduzida de forma estratégica e alinhada à realidade das empresas familiares, pode deixar de ser vista como uma formalidade burocrática para se transformar em um verdadeiro ativo estratégico. Ela atua como um elo entre o legado, a estratégia e a inovação, garantindo que a harmonia familiar possa coexistir com a eficiência empresarial.
A alta direção tem um papel indispensável nesse processo, sendo responsável por estabelecer a liderança pelo exemplo, alinhar os objetivos aos valores e fomentar diálogos abertos e transparentes. Contudo, o papel do conselheiro se revela ainda mais crucial como catalisador de mudanças profundas, buscando reduzir desgastes, mediar interesses distintos e garantir que a governança não apenas resolva conflitos, mas promova avanços estruturais que impulsionem o crescimento sustentável.
Para os céticos, os resultados falam mais alto: sucessões estruturadas, alinhamento estratégico, resiliência em cenários adversos e perpetuação do legado. Isso demonstra que a governança vai além de um conjunto de regras; ela é força motriz, tanto para proteger o passado, quanto para construir um futuro competitivo.
No fim, a verdadeira essência da governança em empresas familiares está em unir tradição e modernidade, alinhando relações humanas às exigências do mercado. Com um modelo vivo e funcional, que evolui junto com as necessidades da empresa, ela transcende sua natureza teórica para se tornar um diferencial competitivo e um pilar de sustentabilidade para as próximas gerações.
Link da Publicação